Stories.

as pseudo-escritoras

Duas raparigas que , ligadas por uma profunda amizade e por uma enorme paixão pela escrita, decidiram, involuntariamente, numa monótona e triste noite, escrever algo diferente, algo que as viciou. Algo que dura até hoje. Ana Campos & Nicole Morais (L)

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Capítulo VII (Parte I)

Aquele dia foi complicado de acabar, parecia que tudo tinha deixado de fazer sentido, e tudo pela súbita ideia de Nicole convidar Gustavo para se mudar para sua casa.
A questão não era ser ele a mudar-se, isso ela percebera. Mas o grande ponto da questão, era o facto de, assim que ambos tomassem essa decisão, seria ela a causa de toda uma mudança que se pudesse avizinhar.
Passaram alguns dias, e Nicole ficou intacta no lugar onde tinha ficado aquando da sua conversa com Gustavo. Mal dormiu durante esses dias, sempre agarrada ao telemóvel e perto do telefone, fosse o Gustavo dizer, finalmente, alguma coisa. Mas tudo sem efeito; Nicole não tinha nem uma única notícia desde aquele dia. Mas não se tinha ainda fartado de lhe mandar vários sms e de lhe telefonar. Pensou e repensou se teria errado de tal forma que tivesse de sofrer tanto com aquele silêncio perturbador de Gustavo.

O motivo do afastamento de Gustavo não fora, efectivamente, a proposta de Nicole; a caminho de casa, no carro, pensou em ir comprar-lhe flores e voltar ao apartamento dela. Contudo, algo o fez não voltar atrás. Assim que chegou ao prédio e, como por instinto, abriu a portinhola do correio do seu andar e viu, para além das contas habituais, uma outra carta.
Esta era diferente e ele não fazia ideia do que pudesse ser mas, ao ver o envelope, percebeu de imediato que se tratava de algo importante. Ao entrar em casa, e depois de atirar o casaco e as chaves para cima do sofá mais próximo da porta da sala, sentou-se em frente à televisão, mesmo com ela apagada, e tratou de abrir o envelope.
Depressa se apercebeu que era uma carta da Universidade Nova-Iorquina a que se tivera concorrido meses antes de conhecer Nicole. Tratava-se, portanto, da aceitação que Gustavo tanto esperava! Pelo menos, até à recente proposta de Nicole.
Pondo todas estas hipóteses em cima da mesa, Gustavo preferiu acompanhar-se de algumas garrafas de whisky, adormecendo profundamente no sofá. No dia seguinte, tal como nos outros que se seguiram a esse, tudo pareceu ficar ainda pior, ainda mais turvo.

Cada hora que passava, parecia passar sempre mais devagar, dentro de casa de Nicole. Esta não saiu uma única vez de casa, não atendeu telefonemas, faltou ao trabalho (...). Até que, depois de se levantar para tomar o banho que já andava a precisar, ocorre-lhe a ideia de ir a casa de Gustavo. Assim ele não podia fugir, isto é, se lhe abrisse a porta. Despachou-se a correr, como se fosse apanhar algum transporte, ou como se ele fosse fugir. Problema é que havia essa hipótese, só ela não o sabia.
Assim que chega ao prédio de Gustavo, toca à campainha. Ninguém atendeu. Até que saiu um senhor do prédio e a deixou entrar. Foi então que Nicole subiu até ao andar de Gustavo.

Gustavo, na dormência que se apoderara dele, ouviu, ao longe, o toque insistente da campainha: “Quem é o imbecil que não pára com esta barulheira?!” disse, puxando, num gesto lento, uma almofada para cima da sua cabeça. O toque, esse, parecia tornar-se ainda mais alto, ainda mais presente, como se dele troçasse.
Destroçado e furioso, numa combinação perfeita de força, ergueu-se do sofá e, com passos largos, alcançou a porta que, sem se dar ao trabalho de espreitar, abriu, com uma série de palavras debaixo da língua, prontas a serem proferidas. Qual o seu espanto quando, à sua frente, estava Nicole, pálida, com os olhos esbugalhados.
A sua raiva dissipou-se e as lágrimas estavam à beira de rolar pelo seu rosto; o momento que andava a evitar acabara de chegar.

N: Gustavo?! O que se passa? Que ar é esse? Não disseste nada durante estes dias todos porquê? Sabes o quanto me magoou essa atitude?! - Dizia Nicole, completamente chateada e, ao mesmo tempo, espantada pelo aspecto que Gustavo apresentava.
Gustavo não respondeu. Virou-lhe as costas, deixando a porta aberta, na expectativa que ela o seguisse para a sala. Nicole, após alguns segundos de reflexão, entrou e fechou a porta. Dirigiu-se à sala, onde encontrou Gustavo sentado no sofá, perdido entre os lençóis e as almofadas, as garrafas e os lenços.
Quando o fixou realmente, reparou que este lhe estendia um papel, uma carta, presumiu ela. Pestanejou fortemente, respirou fundo e permaneceu hirta. Só depois pegou na carta. Mesmo antes de Nicole acabar de ler a carta, Gustavo já escondera a cara entre os joelhos.
N: Foi por isto que não disseste nada? Onde está a tua coragem? Está aí deitada por entre essa lixeira em que te encontras?! Sinceramente, Gustavo, pensei que fosses homem suficiente para seres sincero comigo e me contares, em vez de te afundares nessa tristeza e nessa desgraça. - Nicole, desta vez, abandona o seu espanto, e dá lugar a uma desilusão. Não estava a acreditar que ele não tinha falado com ela mas, principalmente, que o ia perder por causa da proposta que este recebera.
G: Gustavo levanta a cabeça, num ápice, olhando incrédulo para Nicole. Falava rápido, como se tivesse treinado um discurso inúmeras vezes e, agora que tinha de o proferir, se tivera esquecido de tudo: “Que queres que te diga? Eu não sei! Eu recebi isso na tarde em que me fizeste a tal proposta… Eu não sei que fazer! Não sei, não sei, não sei!” Exclamou. Enquanto isto, acendera um cigarro. As suas mãos estavam trémulas, o seu olhar distante e o seu corpo quase imóvel.
N: Pára! - Grita Nicole, ao mesmo tempo que lhe arranca o cigarro da boca. Agora vais deixar essas dúvidas de lado, e vais falar comigo! Ou achas que não me deves, pelo menos, isso?!
G: O olhar distante tornou-se, imediatamente, num olhar fogoso, que ficava Nicole. Gustavo, com a sua voz forte, e num tom um pouco elevado, respondeu-lhe: “Devo, eu sei que devo! Mas queres que te diga o quê? Diz-me, porque eu não sei! Tens a noção que eu não sei qual será o meu futuro? Tens a noção do quão desorientado isso me deixa? Não tens, Nicole, não tens! Por isso, não me venhas pedir justificações, por favor!” desvia o olhar para a janela e, mecanicamente, acende outro cigarro. 
N: Tudo bem - diz Nicole, baixando a cabeça de descontentamento-, eu também não sou ninguém para te obrigar a nada e, muito menos, obrigar-te a decidir algo que só tu podes decidir. - Ao mesmo tempo que o diz, olha em redor e acaba por virar costas para a porta. Já estava tudo perdido, e nada que pudesse fazer. Agora só lhe restava dar tempo a Gustavo, para que este pudesse decidir o que achasse melhor.
Ao aperceber-se da reacção de Nicole, Gustavo agarra o braço dela e, firme mas suavemente, encosta-a contra o seu peito e, baixinho, diz-lhe ao ouvido: “Eu amo-te. Não vás, não vás agora”. A sua voz falha e, por momentos, apenas se ouve a respiração ofegante dele e o bater acelerado do coração dela.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Capítulo VI (Parte III)

À medida que a água corria por aqueles dois corpos, unidos por tanto amor, pensamentos mais do que atrevidos giravam pelas suas mentes. Era impossível não ser assim. Parecia que quanto mais perto estavam um do outro, mais perto queriam estar. Naquele momento, não havia espaço para incertezas, ou qualquer tipo de dúvidas. Estavam ambos preenchidos por um desejo incontrolável, onde só havia uma forma de o parar. E foi precisamente nisso que pensaram. Numa voz bastante ofegante, Nicole diz coisas inimagináveis, coisas que deixam Gustavo a desejar por mais. No entanto, não quis ficar por ali, mas nem sabia por onde começar, ou como começar. Apesar de o desejar tanto, não conseguia controlar a vergonha de dizer aquilo que realmente queria.
Cada palavra dita por Nicole, fazia Gustavo estremecer de tanto rir. Esta dizia palavras quentes, cheias de desejo, mas, ao mesmo tempo, ainda meio tímidas. Gustavo dava por si a pensar que não conseguia ser tão cúmplice de alguém como era de Nicole. Que tudo o que eles viviam era único, e que não podia existir mais nada que rompesse com o que eles já tinham construído juntos. Cedia a cada provocação de Nicole, até que lhe diz, envergonhado:
- Já chega, ou então, nem o banho nos escapa.
Nicole soltou uma gargalhada, simplesmente por perceber que o jogo que estava a fazer resultava. Mas achou que isso não chegava para satisfazer o seu desejo, então, com toda a convicção, dirige-se a Gustavo com um beijo suave e diz:
- Meu amor, não é o banho que quero.
Gustavo, já tendo percebido isso há muito tempo, resolveu assumir o controlo:
- Isso sei isso, minha querida! - E, com um sorriso maroto, agarra em Nicole e, em passos leves mas ágeis, leva-a para o quarto, posa-a na cama e enche-lhe o pescoço de beijos certeiros, que arrepiam a pele de Nicole e a fazem fechar os olhos e desejar por mais.
N: Odeio que já saibas os meus pontos fracos - diz Nicole, com um sorriso na cara. Enquanto isso, vai acariciando-o ao longo da face, passando pelo cabelo. Mas deixa que não vou ser a única a sofrer. - Ao dizê-lo, rebola, ficando ela por cima. Beija-o ao longo do corpo e vai provocando reações.
G: Se quiseres, digo-te os meus pontos fracos todos - diz Gustavo, numa voz quente e de rendição. Ele sabia o que estava prestes a acontecer. E sentia-se como se fosse, de novo, a sua primeira vez. Aquela mulher tinha uma efeito tão misterioso sobre ele! E a manhã passou e, quando deu por si, Gustavo tinha Nicole deitada no seu peito, com os olhos fechados, respirando depressa mas parecendo q suspirava. E nunca se sentira tão bem. Brincava com uma madeixa de cabelo de Nicole enquanto a respiração dela lhe fustigava o pescoço. Começou, depois, a acariciar a pele quente dela; os seus dedos baloiçavam para cima e para baixo no braço de Nicole. E ele sorria, como se nunca a tivesse sequer visto. De repente, os olhos dela abriram-se, devagarinho, e cruzaram-se com os dele. Ambos sorriram e Gustavo, naquela sua voz doce, perguntou-lhe:
- Estás bem, minha querida?
A única coisa que Nicole pensou quando acordou, foi como lhe soube tão bem abrir os olhos e a primeira pessoa a ver ser Gustavo. Era uma sensação maravilhosa, e Nicole queria aproveitá-la ao máximo. Depois da pergunta de Gustavo, Nicole foi-se ajeitando para junto dele e, com um sorriso ainda meio sonolento, respondeu:
- Estou maravilhosamente bem! E tu, meu amor?
G: Estou óptimo! Ver-te dormir é uma coisa maravilhosa - solta uma das suas risadinhas! Podias ter dormido mais um pouco, ainda é cedo.
N: Ainda é cedo? Que horas são? Já viste os nossos preparos? - Nicole fala tão apressadamente como se tivesse alguém à sua espera. Pega num lençol, enrolando-se nele, e espreita para fora da janela. Para além de uma vista maravilhosa, Nicole também reparou que estava já o sol lá no cimo, e que havia muita movimentação na rua. Era por volta das 15 horas. Lá fora era cedo, mas dentro daquela casa, o tempo parecia passar a correr, de tão bem que era aproveitado. Nicole, por fim, acalmou, e estava enroscada num abraço com Gustavo.
Depois de a acalmar e de a envolver no seu abraço, Gustavo tentou perceber o porquê daquela agitação:
- Que se passa? Tens planos? Tens alguém à tua espera? - E ficou quase que preparado para se levantar a qualquer momento.
N: Não, meu amor, não tenho nada. Desculpa. Ai, que parva, meu Deus. Desculpa-me. - e dá-lhe miminhos em estilo de arrependimento.
G: Então porquê toda aquela agitação? - Gustavo olhava-a, agora, nos olhos, com um ar aberto, pronto para ouvir qualquer coisa vinda dela)
N: Não sei, pensei que tivesse adormecido a tarde inteira e que já estivesse de noite. – diz, com os olhos arregalados de espanto.
G: Não, não é de noite. - disse Gustavo com um sorriso de alívio nos lábios. E, se não tens planos, podes voltar para o pé de mim; ainda é cedo, não te preocupes com o tempo. Estás bem? - O seu tom era agora sério.
Chegando-se para perto de Gustavo, Nicole reclama em tom de brincadeira:
- E se eu me quiser preocupar com o tempo, hum? Não me podes fazer de tua prisioneira, meu amor… - E, sussurrando-lhe ao ouvido, rende-se em apenas cinco palavras -  apesar de gostar da ideia.
Gustavo ri.
- Meu amor, mas tens de te decidir: ou és minha prisioneira ou te preocupas com o tempo. Ambas as coisas é que não pode ser. - ri de novo e lança-lhe um olhar de desafio. Vá, escolhe.
N: Mas agora fazes-me escolher coisas que nem sequer são indiscutíveis? - Olha-lhe Nicole, com um ar de quem está a perceber o jogo.
G: A vida é feita de escolhas. Se quiseres - volta novamente o seu tom malicioso -, posso pegar na minha roupa, vestir-me e pegar no carro enquanto tu ficas a preocupar-te com o tempo. Como já tenho dito, estou às tuas ordens - e pisca-lhe o olho, com um ar sedutor, de quem sabe dominar o jogo.
N: Não, eu não quero que pegues nas tuas coisas para ires embora, quanto mais que seja para as trazeres todas para cá. - Revela, Nicole, cheia de timidez pelo meio.
Gustavo olha para ela, com os olhos muito abertos e fixos; não estava nada à espera que o jogo tomasse aquele rumo. Aí, o seu tom malicioso transforma-se em espanto. Contudo, ao ver a expressão de Nicole, diz, num tom pacífico, sereno: repete lá isso…
Nicole reparou que, a avaliar pela expressão de Gustavo, aquilo que dissera fora bastante perturbador. No entanto, não ia dizer para ele não ligar. E então, respirando bem fundo, e a pensar que palavras podia utilizar, Nicole acaba então por dizer:
- Sim, foi o que ouviste. Na verdade, é quase como se cá estivesses sempre. Ou eu na tua casa. Passamos os dias juntos, seja onde for. E acho que não é por juntarmos as escovas de dentes que as coisas se complicam. - diz Nicole, já a morder o lábio em tentativa de se calar.
Aquelas palavras foram mais mortíferas do que Gustavo alguma vez imaginara. Era óbvio que ele concordava com ela, mas fora apanhado totalmente desprevenido. Não sabia que dizer, não sabia como reagir; não a queria magoar, não queria que tudo aquilo terminasse. No entanto, não deixou a surpresa e a confusão perturbarem a sua aparente calma e disse:
- Nicole, eu amo-te, mas não me podes pedir que largue tudo aquilo que me fartei de lutar para obter. Nem eu te pediria para largares a tua independência, a tua casa, isto tudo, somente por uma coisa provavelmente dita no calor do momento... - Aquando isto, já ele estava a abotoar os botões da camisa, depois de ter vestido as calças e calçado as botas. Não sei que te dizer, não sei… - o seu tom era, agora, de desânimo.
N: Ok, ok, calma! Não precisas de ir - Diz Nicole super aflita! Não queria nada que aquela confissão calhasse em discussões ou que, até mesmo, fizesse aquilo que eles tinham terminar. Se não te agrada, tudo bem. Eu só dei a ideia. Não precisas de aceitar se não queres. Aliás, eu compreendo a tua reacção. Tentando desculpar-se o máximo que pode.
Por mais que gostasse da ideia, Gustavo sentia um medo enorme do que aquele passo poderia significar. Mas, ao ver o desespero estampado no rosto de Nicole, apressa-se para ela, em passos firmes, agarra-a, sussurra-lhe um “Eu Amo-te” ao ouvido e beija-a. E, por mais difícil que fosse, para ele, largá-la, Gustavo sabia que, depois da reacção errada que teve, era o momento de ir embora.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Capítulo VI (Parte II)

Depois de mastigar e engolir o pão que ela lhe dera, e de pensar em como perfeita ela era, disse:
- Sim, fica com mais classe. Hum, será? Talvez, não sei.
N: Eu também não sei, só tu é que me podes dizer - e sorri, com os olhos completamente rasgados.
G: Claro que tem a ver com isso. Ultimamente, o meu dia-a-dia gira todo em torno de ti - e, nesse momento, Gustavo agarra-lhe suavemente o queixo, puxa-a para si, e cola os seus lábios aos dela, suave mas intensamente.
N: E isso é suposto ser bom?
G: Achas que não? Para mim é. Acho que já te dei a entender isso…
N: Sim, já. Mas nunca temos a certeza disso, até porque os sentimentos mudam, não é? - o rumo da conversa já não agradava a Nicole, mas era ela que estava a torná-lo tão difícil... para remediar, sentou-se no colo de Gustavo, deu-lhe um leve beijo na face, e partilhou um pedaço de pêssego que tinha pela mesa.
G: Sim, mudam. Mas não do nada. Confia em mim quando digo que te amo, sim? - e pensou que fora demasiado directo; mas aquilo saiu-lhe de repente, inesperadamente.
N: Amas? – “directo demais, não?” pensava Nicole que, com isso, ficou sem saber que pensar, que dizer, ou que fazer. Enquanto isso, levantou-se, e começou a beber o seu café junto à janela, olhando o infinito.
Gustavo reparou na reacção dela. Por instantes, desejou ter ficado calado. "Só fazes porcaria!", pensou, irado. Mas o que está dito, dito está. Hesitou, olhando para ela em busca de uma explicação:
- Esquece o que disse. É cedo, ainda estou a dormir - e bebeu o seu café.
Enquanto ele dizia aquelas coisas, Nicole apercebeu-se do impacto daquela palavra dentro de si. O que poderia significar? Que também o sentia, ou que ainda era cedo para isso? Entretanto chegou-se de novo perto dele, sorriu-lhe levemente, pegou na mão dele e, para descomprimirem daquele momento, levou-o a conhecer a sua casa. Primeiro a cozinha por completo, depois a sala (...) enquanto ele fazia as suas observações, ela ria-se.
Gustavo ficou confuso; não percebera as reacções dela. E isso deixava-o intrigado, curioso; ele nunca sabia o que ela estava realmente a sentir ou a pensar. Pensava nisso enquanto observava a casa. Enfim, concentrou-se. No final, disse:
- Eu disse logo que a tua casa era digna de uma princesa! E já vi que tinha mesmo razão. Mas isto foi só um golpe de distracção, não foi?
N: Hum... Não sei do que estás a falar... - disse ela, tentando que ele passasse à frente. Mas viu que era sem sucesso, então foi deixando que ele falasse.
G: Sabes sim. Eu disse-te que te amava e tu fugiste. E não me venhas dizer que acreditaste na desculpa do sono porque eu sei bem que não! Fala comigo, diz-me o que sentes, eu preciso, eu tenho de saber! – O tom de voz de Gustavo estava mais elevado do que era costume; estava quase a implorar por uma resposta.
N: Eu não sei em que hei-de acreditar. Precisas de saber o quê, o que sinto? Porquê? - tudo o que ele mostrava sentir, era igualmente o que ela também sentia, não sabia era como lidar com a situação. Mas, no fundo, sabia que podia contar com ele para o que quisesse, até para admitir aquilo que sentia, e o que mais desejava Gustavo saber.
G: Não acreditas em mim, no que te digo, no que te mostro? Preciso de saber porque... eu quero ter-te comigo, quero que sejas minha! E quero saber se é correspondido ou não; porque eu não vou desistir de ti! Só se tu mo pedires... - e aqui a sua voz falhou - por favor - disse, enquanto a encostava à parede, enquanto encostava o seu corpo ao dela e lhe falava muito perto do rosto, com os olhos fixos nos dela, tentando decifrar algo que eles pudessem deixar escapar - diz-me o que sentes, diz-me!
N: Queres saber o que sinto, não é? Pois bem, vamos, eu digo. - Senta-se numa poltrona que está no seu corredor, levando Gustavo para perto dela. Ainda não me esqueci da nossa expressão: "não foi por acaso". E não foi, de todo! Adoro estar contigo, se é que isso chega. Ter-te perto de mim, é como se tivesse tudo e não precisasse de mais nada. És a minha vontade de acordar de manhã e ir passear, ir beber um café, conviver, viver, principalmente. Nem sequer consigo acreditar que tenho alguém como tu do meu lado, tão presente, tão atencioso, tão amável. Acredita que também quero ter-te comigo, não só hoje, mas todos os dias que me forem possíveis. Dou tudo o que puder para estar sempre assim contigo, sempre perto de ti. Sorrir contigo, viver contigo, partilhar a minha vida contigo. - e já com umas pequenas lágrimas nos olhos, e com um riso abafado, ela continua - eu também te amo! E não é do sono, nem do café, nem de nada. É a verdade. E quero que acredites em mim, tanto quanto eu acredito em ti. Quero que fiques comigo, e que me proves que somos capazes de ser feliz. – Nicole atira-se para cima dele, na esperança de o abraçar e, assim que sente aqueles braços engelhados em si, só tem vontade de ficar ali o tempo todo, sem saírem do mesmo lugar, e da mesma posição. queria amá-lo todos os seus dias, e saber que era feliz. sim, isso podia acontecer com eles.
Ao ouvir tudo aquilo que ela lhe dissera, Gustavo quase que bloqueou. Nos oito segundos que se seguiram, só conseguia abraçá-la, beijá-la; estava sedento daquele amor. Até que lhe dirige umas palavras:
- Ouve, eu sinto que o meu coração bate por ti cada dia que passa, cada vez mais forte e estou certo de uma coisa: nasci para te encontrar, para te mostrar que existe muito mais para lá do horizonte e, se queres uma prova que somos capazes de ser felizes, basta olhares para o que está a acontecer agora mesmo neste momento! Isto é a Felicidade e eu sei que tu também o sentes. - Já estavam ambos envolvidos em todo aquele clima de romance, quando Gustavo, com a voz baixa, grave e meio ofegante, pergunta a Nicole: Já tomaste banho? - e continua a beijá-la, sem parar, enquanto espera pela resposta dela.
N: Eu só sei que quero ficar contigo. Já tenho essa certeza, meu amor! - tudo aquilo que ambos diziam, soava tão bem a Nicole! Nada poderia substituir aquilo que estava a sentir naquele momento. E, quando foi interrompida por aquela pergunta tão "a propósito", riu-se quase como um sussurro, e disse- Não, estava a contar tomar mais daqui a pouco. Porquê?
A malícia voltara ao sorriso de Gustavo.
- Porque pensei que talvez quisesses companhia… - pegou nela ao colo e, entre beijos e carícias, levou-a até à banheira.
N: Bem, não é mal pensado. Visto que tens de me compensar do outro banho que tomaste sozinho - e revirou os olhos, na tentativa de se meter com ele.
G: Então deixa-me compensar-te - e abriu o chuveiro. A água deambulava pelo corpo de ambos, ainda coberto com as roupas, que foram tirando pouco a pouco.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Capítulo VI (Parte I)

Gustavo acordou com a luz do sol a bater-lhe na cara. Ainda era cedo para ir para a faculdade; foi tomar banho, vestiu-se e, depois de muito pensar, resolveu ligar à Nicole. Marcou o número, aquele que jazia no seu peito (literalmente), e ficou a ouvir os "bip's" e esperou, na ânsia de ouvir a voz dela.
Era tão cedo... quem é que já estava a ligar para Nicole àquela hora da manhã? Teve vontade de nem sequer atender, mas como o som não parava, e já estava a irritar-lhe os ouvidos, decidiu atender. Meteu o telemóvel ao ouvido, e numa voz meio "embaciada" de tão sonolenta que estava, disse:
- Estou?
G: Estou? Ah... Olá. Sou eu, o Gustavo. Desculpa ter-te acordado a esta hora... – a voz saiu-lhe sincera mas tremida, dos nervos.
N: Ah, és tu. Diz, diz, não tem mal. – Nicole ficou tão surpreendida com aquela chamada, que de tão contente que estava, levantou-se a correr da cama, e falou então com ele. - Já estava acordada.
G: Estavas? A tua voz diz-me o contrário – e soltou uma risadinha. - Bem… fiquei a pensar na noite de ontem… - fez uma pausa e respirou fundo - Só queria pedir-te desculpa; não agi nada bem... Não sei que me deu.
N: Na verdade, não sei porque ficaste assim. Ou melhor, até sei. Eu queria entrar em brincadeira contigo, acerca daquela coisa de vir para casa... mas parece que não devia tê-lo feito. Desculpa eu!
G: Eu sei, mas... não sei o que me deu. Desculpa, minha querida, a sério… Sinto-me um completo idiota! - a sua voz estava enraivecida. - Desculpa. Eu não te quero perder... - sussurrou por fim.
N: Oh, não sejas assim. Não tens culpa de literalmente nada, descansa. Nem precisas de te insultar. Olha, fazemos assim, queres encontrar-te comigo hoje, ou... tens uma coisa para acabar? - e riu-se, em tom de brincadeira.
G: Não, não tenho nada para acabar - e sorriu, como se ela o estivesse a ver. - Encontro-te a que horas?
N: Por mim, já! – brincou.
Gustavo riu-se. - Não tens aulas? Ou um emprego ao qual não podes faltar?
N: Hum... Tenho? Não me lembro de nada. Tu sabes de alguma coisa? Sim, tenho aulas hoje, mas não faz mal faltar um dia, pois não?
G: Não sei de nada - e assobiou uma melodia qualquer. - Então vou ter contigo agora, pode ser?
N: Pois. Se tu não sabes, eu também não! Pode sim, ainda te lembras do caminho?
G: Sim, sei. Decorei-o mecanicamente, ahah. Até já, um beijo - e a malícia regressou à sua voz. Desligou.
N: Ahah, ainda bem, poupas-me trabalho - riu-se. Até já, vem rápido. Beijo.
O caminho pareceu-lhe muito mais curto do que na noite anterior. Ao chegar, apercebeu-se que nunca soubera o andar. Riu-se. Pegou no telemóvel e ligou-lhe:
- Estou? Olha, esqueceste-te de me dizer o essencial: o teu andar. És uma tonta, sabias? - a sua voz estava doce como mel.
N: Ahah, que grande falha... a tua! Tens a certeza que a tosca sou eu?! - ao mesmo tempo que estava a dizer-lhe isto, já estava a descer as escadas do prédio para ir buscá-lo. Achou mais bonito... e assim ele depois que descobrisse por si próprio. – Desliga.
"Desliga"?, pensou ele. Olhou em frente e viu-a à porta do prédio, encostada à porta de braços cruzados, a olhar para ele com aquele olhar de provocação. Olhou para baixo, sorriu, trancou o carro e seguiu na direcção dela. Olá!
N: Olá meu doce - e tenta iniciar um beijo cheio de pedidos de desculpa pelo sucedido na noite anterior.
G: O beijo soube a pouco e, quando deu por si, Gustavo já se encontrava a fechar a porta de casa dela. Seguiu-a até à cozinha. - Tens aqui uma casa digna de uma princesa, sabias
N: Digna de princesa? A que propósito dizes isso? - Convida-o a sentar-se, enquanto leva um prato com umas tostas para a mesa. Já tomaste o pequeno almoço?
Ele voltou a olhar em volta.
G: Porque está toda arrumadinha, toda bonitinha... sim senhora. Não, ainda não. Vim a correr - e sorri doce e inocentemente, enquanto a olha nos olhos.
N: Oh, sabes como são as mulheres, sempre com aquelas coisas da arrumação. Mas digo-te já que também gostei da tua casa, não és nada como os rapazes de hoje em dia. Muito menos com a mesma idade que tu, que nem se preocupam em arrumar. A correr? Porquê? - pergunta, envergonhada.
G: Isso é porque vivo sozinho há algum tempo... - faz uma pausa e hesita. Mas ainda bem que gostaste - e pisca-lhe o olho. -Porquê, perguntas-me tu? Porque tinha algo de importante para fazer - e assobia, como se não fosse nada a ver com ela.
N: Ah, então habituaste-te a arrumar. Acho bem, acho bem. Sempre fica mais bonito quando está tudo arrumado, não é? - e dá-lhe um pedaço de pão à boca. Sabes que acho que esse "algo de importante para fazer", não sei porquê, faz-me crer que tem alguma coisa a ver com a tua vinda cá a casa tão cedinho. Engano-me?

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Capítulo V

Já tinha visto o nascer do sol na companhia de Gustavo; agora... assistiu ao pôr-do-sol com ele. Os pensamentos que por aquela cabeça passavam, só demonstravam a vontade de estar com ele, e ter o sabor de uma aventura, de novas experiências. Ela pensava isto, porque sabia perfeitamente que o podia fazer com Gustavo.
A noite já ia a meio e, naquela praia deserta que Gustavo escolhera tão bem, só havia eles dois, a amarem-se um ao outro, a trocarem carícias e actos de amor. O tempo era pouco, é verdade, mas não foi isso que os impediu de aproveitar os momentos. Aliás, isso só lhes deu força para continuar, e agarrarem aquela vontade doida de estarem juntos.
Nicole estava deitada na areia, por entre as pernas de Gustavo. Estavam ambos a contemplar as estrelas, ao mesmo tempo que conversavam. As palavras corriam como ar; temas infinitos, fizeram com que eles se conseguissem conhecer melhor.)
N: Baby, vai um mergulho?
G: Aquela pergunta fê-lo parar. Óbvio que queria! Ou melhor, desejava-o. Levantou-se da areia já fria, pôs-se em frente a ela, esticou-lhe a mão e disse, com aquela voz grave, repleta de malícia: - Isso nem se pergunta! Vamos, minha querida, vamos! - despiu a camisola e correu em direcção ao mar, na esperança que ela fizesse o mesmo. Só se via a luz do luar a reflectir no mar, tão calmo, tão belo. Pensou que nada poderia estar mais perfeito. E foi aí que tremeu, ao sentir o toque da mão dela no seu ombro.
N: Espera, espera. Deve estar gelada... De certeza que queres ir? - a ideia, era fazer daquilo mais do que um mergulho à noite... só não sabia como o fazer.
G: É claro que quero ir! E sim, deve estar gelada - finge bater os dentes e, no fim, ri-se. – Mas, se quiseres, levo-te ao colo e ficas bem perto de mim... Para não sentires tanto frio, claro! - por momentos, sentiu-se demasiado garanhão. E não era isso que queria que ela pensasse. Por isso, achou melhor usar um eufemismo para disfarçar a sua verdadeira intenção.
N: Bem, se a tua ideia é levares-me ao colo, por achares que me aqueces... Vamos lá experimentar isso - Ao acabar de falar, agarra a mão dele, e corre para dentro de água. Agora vá, faz o teu trabalho, óh senhor espertalhão, ahahahah! - a vontade de se rir foi imensa. E assim que se riu de uma forma tão sentida, percebeu que isso só era possível com ele.
G: Gustavo ficou surpreendido com a atitude tão espontânea dela. Mas seguiu-a, claro. - Então vamos lá, menina! - Já dentro de água, pegou nela ao colo e esperou que ela entrelaçasse as suas pernas na cintura dele. E assim ficaram os dois, abraçados, dentro de água, a tremer de frio, até os seus lábios se unirem. Nesse momento, nem a noite, nem a água, nem o frio importaram.
N: Hum, - fez Nicole, como que para parar aquele beijo. Não foi por não gostar, obviamente, mas porque preferia que estivessem assim, na areia, em casa, ou noutro sítio minimamente mais quente. - espera. Tenho tanto frio - ao mesmo tempo que disse isto, mordiscou a orelha de Gustavo, como que a provocá-lo.
G: Queres que te tire daqui, é? - diz ele, beijando o pescoço dela. Eu faço. - Saíram os dois da água, pegaram nas roupas e foram até ao carro, onde se secaram. Do nada, Gustavo agarra o queixo de Nicole e dá-lhe um beijo suave: - Desculpa, não consegui evitar...
N: Nicole deixa-se ser beijada e, de seguida, também não "conseguiu evitar" e beijou-o também. Em tom de brincadeira, disse: - Desculpa, também não consegui evitar, ahah.
G: Gustavo riu-se; a menina tímida que conhecera dera lugar a uma outra mulher, muito mais segura de si mesma. E isso agradava-lhe. Deu a volta e instalou-se no lugar do condutor, enquanto ela se dirigiu ao do passageiro. - Muito bem, madame, onde quer que a leve agora? Estou às suas ordens! - disse, em tom de brincadeira, mas o seu olhar denunciava que aquilo era verdadeiro.
N: Uhh, madame, que coisa chique, ahah! Hum... Estava a pensar, e... Ainda não conheceste a minha casa...
G: É francês, como o teu nome - e piscou-lhe o olho. Hum… Pois não... Queres que te leve a casa? - ele sabia que não, só queria que ela fosse mais clara. Jogava sempre esse jogo com ela. E gostava de o fazer.
N: Uau, não me digas? Nem sequer sabia... Ahah, és mesmo parvinho. Sim, quero... - Nicole pretendeu entrar nesse jogo. O objectivo era fazer parecer que não queria estar com ele para que, assim que ele a entregasse a casa, pudesse levá-lo, divertirem-se, namorarem (...). "será que ele ia ficar chateado se me ouvisse dizer que quero ir para casa, mesmo sem saber o que eu quero fazer?", pensou ela. mas mesmo assim, deixou-se estar.
G: Sou o que quiser, madame - e voltou a rir. Ah… Ok, eu levo-te lá... Só tens de me ensinar o caminho… - Uau, a resposta dela surpreendeu-o: "será que ela percebeu ou quer mesmo ir para casa?", pensou. Ligou o carro e ficou, em silêncio, à espera que ela lhe indicasse o caminho.
N: Ainda bem, meu querido. Claro. Tens de seguir sempre em frente, depois é à esquerda (...) - no fim de explicar o caminho, percebeu que ele tinha ficado abalado com a escolha dela. "Tempo, passa depressa, por favor!", era só o que ela pensava.
G: Ok. Se eu me enganar, avisa-me. - Gustavo sabia que tinha memorizado todas as instruções dela, mas quis dizer aquilo. Guiou em silêncio; ficou com vontade de estar sozinho e de pensar no porquê daquilo estar a acontecer.
N: Claro que aviso, não te deixava ir para um sítio que nem eu conhecia... Bem, podia ser engraçado! - tentou ela brincar, para que o tempo passasse.
G: Sim, era capaz de ser engraçado... – disse Gustavo, numa voz despida de entusiasmo. Mas não hoje. As palavras soaram-lhe mais fortes do que queria. Mas disse o que sentia. Levo-te a casa e depois também vou para a minha; tenho uma coisa para acabar. - Nunca fora bom a mentir. Mas não podia dizer que lhe apetecia estar sozinho, a observar as luzes da Lisboa nocturna. Queria o silêncio. "só espero não parecer muito duro...", pensou. E suspirou...

N: Ai sim? Pensei que estavas por minhas ordens... Mas tudo bem, tu é que sabes. - "estava ele assim tão magoado com a minha resposta?", "se calhar, é melhor parar e dizer a verdade!", "não, deixa estar...". Nicole só tinha medo que aquilo acabasse mal.
G: Pois... É aqui à esquerda não é? - antes de obter uma resposta, já tinha virado. Qual é o teu prédio? - disse, sem olhar nos olhos dela.
N: Sim, é. É aquele ali de lado - apontando para a direita. Mal tinha falado, já estava ele a virar, e a estacionar.
G: Ok, estás entregue, parece-me… - disse Gustavo, com um olhar triste. Aquilo não lhe parecia nada bem. Mas começar a duvidar, de novo, daquela relação. Ou melhor, daquele tipo de relação; ele não sabia o que ela queria; sentira-se mal por não conseguir distinguir a verdade e a mentira naquela resposta que ela lhe dera.
N: Sim, parece que estou. Não queres subir um pouco? - pergunta-lhe com uma voz baixa, mostrando que estava triste. Não queria aquilo para aquela noite, estava a estragar tudo por causa de uma brincadeira estúpida. Mas achava que já não se podia redimir... Podia ser que ele a desculpasse mais tarde.
G: "QUEROOO!" - pensou. - Não, deixa estar. Também já é tarde. Talvez amanhã - e piscou-lhe o olho, numa tentativa de não parecer tão rude, mas até isso lhe pareceu falso.
N: Está bem... Desculpa se fiz alguma coisa para te deixar assim, pareces tão triste. - E deu-lhe um beijo na face, em modo de despedida. Já nada podia fazer para se remediar, e isso deixou-a desfeita...
G: Está tudo bem. "Que grande mentiroso que sou. Deus ainda há-de me castigar!" - pensou. Deu-lhe um beijo na testa e desejou abraçá-la. Ao invés, pôs o motor a trabalhar e seguiu pela estrada fora. Chegou a casa, enfiou-se na banheira e só pensava no estúpido que era; deitou-se na cama, ficou virado para a grande janela do quarto com vista para o rio e adormeceu a pensar no q poderia fazer para se redimir no dia seguinte.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Capítulo IV (Parte II)

A voz de Nicole trouxe-o de novo à realidade:
G: Ah.. Já chegaste? Olá! – olha para o relógio e diz: - não, chegaste na hora certa. Queres ir beber um café aqui ou preferes entrar?
N: Ficamos primeiro por beber aqui um café, e depois vamos a outro lado. A tua sorte é eu não ter carta, senão... 
Gustavo sai do carro, ao mesmo tempo que mete os seus óculos de sol, e tranca-o. – Como queiras. "Senão..." o quê? Ahah, agora fiquei curioso. – Diz-lhe com um ar malicioso, e assim fica, fixando-a enquanto a acompanha a entrar no café, a escolher a mesa e a fazer o pedido, quase como que mecanicamente.
N: Senão, de certeza que não estávamos aqui. Por mim, passava o resto do dia na praia, contigo. Mar, sol, areia... Hum, que saudades! – Esta era uma forma que Nicole arranjara, para ver se Gustavo fazia algum pedido que lhe agradasse. Obviamente que não se importava de ir beber café com ele, mas ela queria mais que isso. Queria, principalmente, conhecê-lo melhor pois, o que sabiam um do outro, ainda não era o suficiente. Além disso, a curiosidade dela alcançava níveis elevados, sempre que estava perto dele.
G: Hum, estás a tentar fazer com que te leve à praia? - disse, entre risadas, e enquanto bebia o seu café num só gole.
N: Hum... Não sei. Queres?
G: Hoje já te disse que te levo onde quiseres? Se não disse, estou a dizê-lo agora - e pisca-lhe o olho. Retira umas moedas da carteira, coloca-as em cima da mesa e pega na mão dela, dirigindo-a para o carro. Por isso, vamos - abre a porta a Nicole, entra seguidamente a ela e põe o carro a trabalhar.
N: Por acaso, não. Disseste que hoje o encontro era por minha conta. – Com isto, Nicole solta um riso bastante sentido! Sabia que era ela que tinha de o "comandar" mas, mesmo assim, deixou-se ser guiada por ele.
G: Sim, e tu deste-me a entender que querias ir à praia. E eu vou levar-te lá. Quero ver um sorriso de criança nessa tua carinha, e quero ter um tempinho só nosso, para te conhecer melhor. – Também ele estava a ser sincero; queria saber tudo dela. Mas aviso-te que não gosto de praias empestadas de gente. – Riu-se, levando uma mão ao cabelo, ajeitando-o num gesto infantil.
N: Oh, tu e a tua simpatia sempre presente, meu querido! Então vamos lá escolher uma boa praia. Hum... - pôs-se ela a pensar - Sabes uma coisa?
G: Hum, acho que não - e deu uma risadinha de provocação. – Mas aposto que me vais dizer, não é? Vá, diz.
N: Oh, claro que te vou dizer. És mesmo tosco! (...) Tu és realmente lindo! Considera um elogio, hum – E neste momento, envergonhou-se de tal maneira, que virou de imediato a cara para a janela do carro.
G: Primeiro chamas-me tosco e depois elogias-me? E sou lindo porquê? Por causa dos óculos, só pode! - volta a piscar-lhe o olho, em sinal de brincadeira. E reparou na reacção dela. Olha, eu estou deste lado, não desse. – assim que se ri, continua- E não é preciso ficares assim! Olha para mim. És linda.
N: Claro, é a forma que arranjo para não ficares chateado comigo. Não, até mesmo sem óculos és bonito; e olha que eu tenho razões para o dizer. Unf, muito engraçado. Eu sei que estás deste lado, não do da janela, baby. Linda? Estás trocado! - e ri-se, em tom de brincadeira.
G: Era incapaz de ficar chateado contigo, minha querida! E quais são essas razões, hein? – Gustavo estava deveras curioso! Então, olha para mim. E sim, és linda! Ou não acreditas em mim? - diz em tom magoado, mas na brincadeira; queria testá-la.
N: Hum... Achas que estava uma noite contigo, e nem sequer reparava (verdadeiramente) em ti? És tão... Aii. - aquela última palavra, soou a suspiro, e decerto que o era! Eu acredito em ti, mas não acredito que sou linda, só isso. – Nicole sabia que linda não era, e nem queria entrar por esse caminho...
G: Podias não reparar, estava escuro – É que nem Gustavo acreditou no que disse; sentiu uma enorme vontade de rir. Só queria ver as reacções dela. Mas completa lá isso: sou tão… - continuava a querer ouvir as coisas da boca dela. És linda sim, ou "achas que estava uma noite contigo, e nem sequer reparava (verdadeiramente) em ti?" - sentiu-se a provocá-la e, na tentativa de fugir ao olhar meio irado dela, olhou para a janela e só aí reparou: Olha o pôr-do-sol, tão lindo! - o céu estava laranja, parecia que ardia. Ficou embasbacado com aquela beleza natural; era quase tão fascinante como a beleza que tinha ao seu lado, enquanto conduzia em direcção à praia deserta que tão bem conhecia.
N: Hum... Dizes que podia não reparar, hum? Pois, se é assim que pensas... – “óbvio que não! Nicole, a tua cabeça, onde está?!”, pensava Nicole. Oh, isso não valor – e sorri. Eu acho-te lindo, sim. Mas nem tentes discutir comigo a minha beleza. Olha um rapaz tão lindo que eu tenho ao lado. As miúdas mais novas devem derreter-se contigo em três tempos. – Nicole pôs-se a pensar no que tinha acabado de dizer. Porque é que o dizia? Para o chatear? - "grrr", pensou ela. Logo de seguida, para garantir que não fazia asneira, disse: Desculpa, não ligues ao que disse.
G: Ahah, és tonta... – Gustavo nem sabia bem o que lhe responder; ele sabia que não era verdade o que ela dizia. Via no seu rosto que ela estava nervosa... Ni, tu és linda e, neste momento, não me interessam muito as outras raparigas - pisca-lhe o olho, numa tentativa de a descontrair. Chegámos à praia.
Saíram ambos do carro, em direcção ao areal e ao som das ondas. Ele põe o braço à volta dos ombros dela e beija-lhe a testa. Naquele momento, o ardente pôr-do-sol foi a única testemunha do inicio daquele amor.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Capítulo IV (Parte I)

N: Estou? – Pergunta Nicole, assim que atende o telemóvel. Já estava no trabalho, por muito que lhe tenha custado sair daquele ninho. Assim que se apercebe que é a voz doce de Gustavo, entrelaçasse nela própria, parecendo uma autêntica criança quando lhe dão o brinquedo que ela mais queria!
G: Olá! Ia entrar no banho e, antes que o teu número desaparecesse do meu peito, resolvi ligar-te…
N: Ahahahah! - ri-se Nicole, sem saber o que dizer... Bem, sem querer adiantar muito a minha faceta nada envergonhada... Ligaste mesmo para não perder o meu número, ou...? – deixa o suspense aparecer.
G: Hum… vá, admito que não foi só por isso. Queria ouvir a tua voz.
N: Hum, parece-me, então, que começo a conhecer-te. – afirma Nicole.
G: E isso era o melhor que me podias dizer – e sorri. Bem... queres combinar algo para logo ou... Já tens planos? ... – A voz treme-lhe. Sente que é ali que vai descobrir se esta história pode ou não avançar. Por momentos, foi como se rezasse mentalmente.
N: Agora surpreendeste-me com essa pergunta... Não sabes a minha resposta?
G: Gostava de ouvi-la da tua boca... - a esperança aumentava no seu peito, mas a voz continuava tremida.
N: É impressão minha, ou estás com medo da minha resposta? – Nicole queria que aquela tensão toda que se sobrepunha sobre ele,terminasse.
G: Confesso, estou –  e solta um riso nervoso. É como se, mentalmente, estivesse a rezar para me dizeres que não tens planos – diz, numa voz mais calma, mais com um tom de gozo.
N: Pois, lamento, mas já tenho planos... - na verdade, Nicole não tinha. Ou melhor, na sua mente, tinha. Estar com ele.
G: " Ah… Ok... Parece que as minhas preces não foram ouvidas – A voz de Gustavo continuava calma, mas com um travo a desilusão pelo meio.
N: Meu amor... Estou a brincar. Hum... Boa. "Meu amor" ? Soou estranho. – Por momentos, arrependeu-se daquilo que dissera... Mas continuou. O plano que tenho é estar contigo. Estás disponível?
G: As palavras que saíram da boca de Nicole ecoaram na sua mente: "meu amor"… Que quereria aquilo dizer? – A sério? Não quero que desmarques nada... Sim, eu estou disponível, mas se não puderes… Fica para depois. – Até a si próprio lhe soou falso.
N: Hum, estás a cortar-te? - naquele momento, ela não sabia que dizer. Estava ele a descartar-se, ou a tentar chamar a minha atenção?
G: Estou a dizer-te que fazes o que quiseres…  - posto isto, Gustavo começou a pensar se não estaria ele a ser muito duro.
N: Hey, calma. Eu disse que tinha planos, mas era contigo. Não percebeste essa parte? – Nicole só pensava no que poderia estar a acontecer naquele momento.
G: Desculpa. Sim, percebi… Como queres fazer?
N: Queres encontrar-te em algum sítio, queres que vá ter aí a casa, ou vens tu ter comigo?
G: Vou buscar-te, que achas?
N: Acho óptimo! Sabes onde fica?
G: Sim, sei. É perto do café onde nos conhecemos – e sorri. E pensa onde queres ir, porque este encontro fica por tua conta! E bem, já que não estás aqui, tenho de ir tomar banho, sozinho... – estaria Gustavo a abusar? Não queria saber! Até logo, meu amor.
N: Sim, aí mesmo, ahah. Ui, acreditas nas minhas capacidades de escolha? Pois, já que não estou aí. Mas se estivesse... – Nicole fez silêncio. Queria provocá-lo. Queria fazer com que o encontro fosse mais do que isso, queria que se tornasse escaldante. Sabia bem aquilo que podia esperar!
G: Acredito, sim. Se estivesses... Provavelmente, eu não iria tomar banho agora. – O desejo começou a manifestar-se de novo. Ponderou em convidá-la, mas… algo o deteve. Ele sabia que dela podia esperar tudo. E ele, neste momento, também já estava disposto a fazer muito por aquele ser tão doce. Às 18h encontro-te. Um beijo – a sua voz soava calorosa e grave.
N: Ou então podias tomar... Mas não sozinho – Nicole pensara que ele fosse esperto o suficiente para a convidar, não para dizer que tomava banho depois! Mas estava tudo bem. Combinado, até já – desliga com pena, mas ansiosa por as horas passarem a voar.
Enquanto está no banho, todas as gotas de água que se aventuram pelo seu corpo lhe fazem lembrar dela. Em apenas um dia, já todo o seu mundo girava em torno dela. Deu por si a vestir-se muito depressa, a arranjar o cabelo (que por norma andava sempre eriçado) e a enfiar os braços num blazer discreto.
Não sabia onde aquele encontro o iria levar, mas, desta vez, tinha a certeza que iria correr tudo bem. Pegou na carteira, nas chaves e lançou-se até ao carro. Guiou até ao café junto à universidade e procurou o rosto dela entre a multidão. Ainda não estava. "Tenho tempo para me acalmar" - pensou.

O tempo que tinha de esperar para chegar perto de Gustavo, estava a chegar ao fim. Parecia até que estavam a tirar-lhe um nó da garganta. Depois de uma noite como aquela, e uma manhã tão... hum... bem passada, ela só podia estar ansiosa por estar de novo com ele. Mas as perguntas não a largavam. Ela não sabia se isto ia avançar, se ia recuar, ou se, simplesmente, parava. Mas não ia falar disto com ele, não ia mostrar a sua parte preocupada. Então decidiu levantar a cabeça e assim seguiu para a porta de saída do seu trabalho em part-time, e desceu as escadas um pouco apressada e, é claro que nervosa. Atrapalhou-se por entre ela própria, mas assim continou. Assim que chegou ao café e viu o carro dele estacionado à porta... – Cheguei tarde? - pergunta com um ar preocupado.